Política
Presidenciais 2026
Da "conversa da treta" à "eleição errada". O debate entre António José Seguro e André Ventura
António José Seguro e André Ventura inauguraram esta noite na TVI o ciclo de debates presidenciais 2026. Foi uma conversa animada, em que ambos se interromperam mutuamente quase todo o tempo. Ficou patente a conceção diferente que cada um tem do papel do Presidente da República e do que pretendem para Portugal.
André Ventura disse que Seguro apenas traz a mesma "conversa da treta" de sempre que, afirmou, "não resolve nada", o candidato da área socialista acusou o líder do Chega de estar "na eleição errada" e de defraudar os que votaram nele nas eleições legislativas, antevendo que, daqui a quatro meses irá "receber o líder do Chega em Belém".
Ventura acusou António José Seguro de ter vergonha da herança socialista.
O debate arrancou com o problema da greve geral marcada pelas centrais sindicais para 11 de dezembro, com os dois candidatos a frisarem o direito ao protesto e a divergir em tudo o resto.
António José Seguro disse-se favorável ao diálogo e ao consenso, sublinhando contudo que, "se não derem outra saída aos trabalhadores, eles têm de recorrer aos seus direitos".
"Mas enquanto candidato presidencial apelo ao entendimento", acrescentou, contestando depois a oportunidade da revisão da lei laboral, assunto que, lembrou, não estava incluído no programa eleitoral do atual governo.
"Numa situação de crescimento económico e em que há pleno emprego, é necessário mudar as leis laborais?" questionou.
André Ventura admitiu que é "necessário rever a lei laboral, mas contestou "esta revisão", que retira direitos por exemplo às mulheres e não resolve outros, como os dos trabalhadores por turnos.
Para o candidato da área do Chega, o problema é "de compensação". "Estou de acordo que os trabalhadores têm o direito de recorrer à greve mas os outros portugueses têm de ser compensados" dos prejuízos de terem pago serviços de que deixaram de beneficiar pela paralisação, defendeu.
"É preciso uma revisão de lei laboral mas não esta revisão", acrescentou Ventura. "O problema que temos em Portugal é que temos leis dos anos 70 e 80" e "do tempo do PREC", contestou ainda. "Temos de ter uma lei laboral que incentive ao trabalho", afirmou.
Dignidade do Estado ou traição
Os dois candidatos divergiram igualmente na interpretação dos deveres presidenciais, com Ventura a criticar Marcelo Rebelo de Sousa por não ter "defendido" Portugal, perante as palavras depreciativas sobre o período colonial por parte do presidente de Angola, há dias, nas comemorações dos 50 anos de independência angolana.
António José Seguro invocou a "dignidade do Estado", para afirmar que "eu teria agido como agiu o atual presidente da República".
"Conversa da treta", reagiu o líder do Chega. "Faria a mesma traição que o Marcelo Rebelo de Sousa", acusou.
"O senhor não me dá lições de patriotismo" respondeu Seguro.
Foi o mote para a discórdia seguinte, sobre a herança socialista e uma das alturas mais animadas, em que Ventura desafiou Seguro a dizer se tem ou não "vergonha do apoio do Partido Socialista".
"O senhor representa o mal que o PS fez ao país" afirmou, acusando António José Seguro de ter "uma herança" pesada e de "querer esconde-la".
"O senhor representa o mal que o seu partido (PS) fez ao país", criticou, ligando Seguro a casos como a destruição do SEF, a maior vaga da emigração dos jovens e a crise do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
"Se tem vergonha do Partido Socialista assuma-se", desafiou.
António José Seguro recusou a crítica e garantiu que se assume "por inteiro", com transparência, com as suas "convicções" e "valores" e que "mais importante de que saber de onde venho é saber para onde eu quero ir".
Assumiu-se ainda indignado com todos os problemas apontados por André Ventura.
André Ventura contrapôs entredentes que, quem feriu a confiança dos portugueses foi o Partido Socialista nos últimos 50 anos.
"Agregador" e "conversa da treta"
António José Seguro afirmou ainda que quer "ser o presidente de todos os portugueses" e manifestou confiança em vir a receber André Ventura em Belém depois das eleições. O líder do Chega disse não querer "ser a jarra de enfeitar" e um "corta fitas", e considerou que a "conversa da treta" de António José Seguro "levou ao estado em que o país está".
"Há demasiado passa culpas", lamentou Seguro, acusando Ventura de querer "dividir" os portugueses". "O meu papel como presidente da República é de ser agregador", afirmou.
Na sua busca de "consensos" o candidato da área do Partido Socialista referiu a necessidade de que os partidos tomem consciência de que há problemas inaceitáveis", dando como exemplo a Saúde.
António José Seguro anunciou que a primeira prioridade será por isso a de contribuir para que haja "um pacto para a Saúde". "Mais um pacto entre o PS e o PSD, que deram zero", comentou Ventura num aparte.
"Temos de passar de uma cultura de problemas para uma cultura de soluções", continuou Seguro.
"Eu vejo o que diz e que não tem soluções" respondeu o adversário, considerando a proposta "conversa da treta, que não vai dar em nada, fica tudo na mesma".
"O senhor aceita que venha alguém de fora e que passe à frente dos portugueses", acusou ainda o líder do Chega, referindo que não quer um Portugal "bar aberto para o mundo inteiro".
"Eu não vou aceitar que em Portugal uma mãe um pai, um avô, fique à espera de um tratamento a que outros que vêm de fora têm acesso" a tudo, afirmou.
Presidente "do Bangladesh"
Acusando Ventura de mentir e de popularismo, Seguro lembrou um André mais novo, que não estigmatizava.
"O senhor estava do lado certo" disse, lembrando a tese de doutoramento escrita pelo próprio André Ventura em que este alertava para estigmatização, desafiando-o a lê-la.
"Não lhe respondo da mesma forma porque sou candidato à presidência da República", acrescentou. "O senhor baseia a sua retórica não em factos", é "manipulação".
Referindo-se à questão do pagamento dos tratamentos no Serviço Nacional de Saúde por parte dos imigrantes, Seguro referiu que "uns pagam e outros não pagam". "Isso é um problema de gestão", concluiu.
André Ventura rejeitou fazer "estigmatização" das minorias e reivindicou a priorização das "maiorias". "Se quiser ser presidente do Bangladesh apanhe um avião e vá para lá", contrapôs.
"Sou candidato a Presidente da República de Portugal, os portugueses primeiro" acrescentou. "Vou ser o presidente dos portugueses de bem", referiu ainda.
António José Seguro criticou André Ventura de "estar sempre a dividir entre os bons e os maus" e de não respeitar o Estado de Direito Democrático.
"No Estado de Direito Democrático a lei aplica-se a todos e não discrimina em função da cor da pele", afirmou Seguro. "Um país só é grande quando o seu caráter é elevado", ressalvou.
Após várias tentativas de interrupção pelo adversário, António José Seguro ripostou: "Eu não me deixo provocar por si".
Ao contrário do adversário, André Ventura recusou ser o presidente de todos os portugueses" e de querer ser exclusivamente o presidente dos "portugueses de bem".
"Eu não vou ser o presidente de todos", acrescentou, em críticas sucessivas à etnia cigana. "Eu vou ser o presidente dos portugueses de bem", sublinhou.